quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Como superar a pressão por resultados?

Por: JACQUELINE SANTOS/jornal da paraiba


Quando vou conseguir passar em um concurso público? A dúvida chega a martelar na cabeça das pessoas que estão à espera da realização desse sonho. E pelo caminho existem muitos empecilhos a serem vencidos. Ter tempo para se preparar e estar bem para enfrentar a alta concorrência não são os únicos vilões nessa jornada: um dos fatores que mais pesam no resultado é, sem dúvida, a pressão psicológica exercida pelos pais, maridos ou esposas, amigos...
Mesmo com tantas barreiras pela frente, o candidato deve ter em mente que é possível vencer todas elas. Mas tudo deve ter como base a dedicação, planejamento e muito diálogo. Segundo professores, na maioria dos casos a cobrança parte de membros da família que financiam os estudos. Geralmente aqueles que pagam as mensalidades nos cursinhos preparatórios e bancam todos os gastos com moradia e material didático complementar necessário para equipar os concurseiros são os que mais insistem em pressionar pela aprovação.
A estudante Sulamita França, de 27 anos, sabe quanto tem sido difícil garantir a vaga no emprego público. Mesmo assim, a mãe dela não hesita em cobrar um esforço maior da jovem. Segundo confidenciou, a trajetória de dedicação teve início quando deixou o trabalho de vendedora autônoma e largou o desejo de atuar como professora (fez faculdade de História) para passar várias horas do dia se preparando exclusivamente para concursos.
A candidata não mede os sacrifícios. A cada nova oportunidade, Sulamita viaja para outros estados e estabeleceu como meta concorrer em seleções de tribunais de todo o país. Como não tem renda própria, os custos com taxas de inscrição, passagens e hospedagem (caso o concurso seja em outra cidade) ficam a cargo do namorado, que ministra aulas em cursinhos preparatórios para concursos e entende o objetivo da companheira. O pai está responsável pelo pagamento da mensalidade do curso preparatório.
“Quando surge uma nova seleção, minha mãe fica dizendo que eu tenho que passar. Ela é tão ansiosa que chega a me perguntar, logo depois das provas, se vai dar para ficar entre os classificados. É uma tortura, acaba atrapalhando muito mais do que se imagina”, relata Sulamita, definindo a atitude da mãe como uma forma de protege-la da dependência do esposo, quando casar.
A estudante não é a única que enfrenta esse drama. O professor de cursinho Reinaldo Nóbrega diz que muitos pais chegam a estabelecer um prazo para que os candidatos alcancem a aprovação em determinado concurso. “Como estão pagando, ou mesmo por verem os filhos em casa, sem trabalhar, aparentemente não fazendo nada, começam a exigir resultados, o que somente atrapalha quem está na concorrência”, explica.
O professor Reinado Nóbrega estima que 50% do desempenho do estudante em uma prova de concurso esteja ligado diretamente com o equilíbrio emocional, previsão que serve para confirmar o quanto a pressão da família tem um peso negativo na conquista esperada por anos. A estudante Sulamita França confessou que as atitudes da mãe têm influenciado de tal maneira a ponto de confundi-la na hora da avaliação. “Às vezes estou bem, calma, pronta para a prova e toda essa pressão acaba me prejudicando. Ela não entende que na época do meu pai passou no concurso (ele é bancário), havia 300 para uma vaga e hoje passam de 30 mil disputando uma única oportunidade”, desabafa.
Além dos pais, que são os maiores responsáveis pelos conflitos entre os estudantes, outros familiares, a exemplo dos maridos, também contribuem para que surjam bloqueios no caminho do concurseiro. Mesmo que não esteja claro, a dona de casa Silvana Trigueiro Teixeira sente as insinuações do esposo, que a mantém financeiramente em um cursinho preparatório. Ela parou de estudar para concurso assim que casou e há cerca de um ano resolveu voltar à atividade.
“Ainda não me sinto preparada. Terei que estudar bastante ainda para concretizar o desejo de ver meu nome entre os primeiros colocados. Meu marido é quem me sustenta em tudo, inclusive paga os meus estudos. Às vezes percebo que ele fica descontente em alguns momentos. No entanto, espero que ele tenha paciência porque não pretendo desistir”, salienta a candidata, que está com os olhos voltados para a próxima seleção para cargos de nível médio da Receita Federal, cujo edital não tem previsão para ser publicado.

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